sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Houve outrora um Tempo
sem tempo em que corremos, 
abraçamos felizes as estrelas
e delas enchi as mãos e o coração.
Outrora fui estrela, pulsante, refulgente 
lembras-te?

Dois aguçados gumes trespassam agora a minha alma
grito de dor e atravessam-me, vagarosamente, neste tempo com tempo
grito
grito
grito
e tu não me escutas.

Segredas-me que outrora,
na alvorada das estrelas,
corremos muito longe, olhos fechados.
Vivíamos e amávamos, olhos nos olhos,
longe, longe, 
sem tempo.
Mas não escutas já 
o bramido da minha dor. 
Olvidaste-me no lastro remoto do Tempo.

Outrora num Tempo sem tempo, 
não cerrada ainda neste excruciante corpo,
voei translúcida, sem asas e sem medo.
Memórias cristalinas
longe, longe.

Sem energia, sem rasgo e vigor
sem sombra sequer, rastejo
grito 
grito
grito
a lancinante
dor que me atravessa e rasga
submersa no caos e na lodacenta escuridão da noite.
Outrora fui estrela e corri sem medo.
Outrora sabias de mim. 

Outrora num tempo sem sonho,
livre, alva e sem dor, Amei.
Na dor abandono-me e entre lágrimas confundo-te,
livre, fulgurante e dançando diante de mim
há muito tempo, tanto tempo
longe.

Silencio-me na dor.

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