quarta-feira, 30 de março de 2011

SERES TERRA - Ode a uma Terra longínqua

Pequeno, pálido, um ponto azul...
Derivas só, numa via de poeiras.
Longe do centro, dizem-te em órbita,
no braço exterior de uma imensa espiral.

Não sei se cabes na palma da mão da Ilusão,
tu e a espiral e todas as poeiras,
exóticos e cintilantes faróis,
desta vastidão de negro.

Não sei se cabes na explicação da Razão,
tu e todos os cenários e acções,
evoluções e extinções,
deste vastíssimo vazio.

Palco sagrado, de Vida exaltante,
oceanos de brancos véus te cruzam,
cascatas vaporosas de chuvas evaporadas.
Líquido e azul preenche e ondula,
corre e atravessa ancestrais cicatrizes,
memórias de um anoso nascimento.

Gigante palco, de vida fulgurante. Sagrado!
Vestes verdes majestosos e dourados ardentes.
És corredor de todas as existências,
jardim de milhões de cores e odores
abundas de alma e ânimo de vida que flui.

Nos tempos idos, ficou a tua paisagem,
encerrados os Ciclos e as Eras.

Talvez, passadas Eras de vermelho te tingires,
inflamada e fundida na estrela que te ilumina,
sejas fugaz e refulgente recordação
em remotos universos.
Quiçá, ecos de ti ressurjam.

Num assomo de ousadia, qual navegador
num mar desconhecido, lançámos-te,
Terras de ti, além-espaço.

Náufragos errantes,
sonhámos quem nos salvasse da solidão!
Numa pioneira e complexa garrafa,
encerrámos a nossa chave.

Quão longe, quão distante no tempo?

Contornos esfumados de um mapa perdido,
fantasmas de seres cravados na eternidade,
vozes e lamentos de uma humanidade perdida.
Ecos e canções de uma Terra longínqua,
passada e em cinzas talvez dispersada.

Encerrados os Ciclos e as Eras,
perdida em tempos idos, ficou a tua paisagem
e os Seres, que de Vida, te sacralizaram!

(Sentir e Ser - 2011)

DEMANDA

Demorada é a Noite
em que perdida demando
um fragmento de Luz, um farol.
Num corpo que ecoa,
de tudo o que me flui e confunde,
nas mãos que te sentem e percorrem,
sou tantas vezes brisa e mar,
cristalina gota de água salpicada,
sal e sol,
árvore e ave, folha seca e chuva,
pedra ou cor
do que vislumbras e julgas ver.

Na busca da Luz,
assumo a vastidão,
encontro a Eternidade.

Nunca morri, nunca nasci.

(Sentir e Ser - 2011)

ECOS (sem título)

Quando avistas um pássaro,
esvoaçante no azul,
qual dos dois voa mais alto?
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Nunca compreenderás,
os sonhos que ficaram para trás.
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Nada do que digo,
vale a pena ser lido.
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Parei,
parei tanto,
que raízes criei
e Árvore me tornei.

FLORIR

Vou-me vestir de Árvore,
e de súbito, explodir em flores!

FUSÃO EM CORES


Vou abraçar uma tela em branco
e nela me diluir,
em milhares de cores,
primárias e invisíveis.

Encontra-me!

ENTARDECER

Deviam proibir as andorinhas,
que me trazem passados de Verão.
Deviam proibir as andorinhas,
que me evocam véus dourados de entardecer
e me cruzam de dor o coração.

Deviam proibir os seus aguçados gritos,
que me ecoam palavras entardecidas,
brisas tépidas de pálidas estrelas lavradas
e trazem cheiros de terras idas.

Deviam proibir os seus voos,
que desenham colinas de searas selvagens,
pintam anil no céu que escurece.

De voos embriagados,
trazem a promessa de um dia novo,
lembram que se estende o oceano mar,
para lá do horizonte...

No corrupio das suas últimas partidas,
chamam por mim e recordam-me,
abruptamente,
que de um sonho inesperado despertei,
que como elas não voo com o crepúsculo,
não me banho do ar dourado do anoitecer.

Com elas, não transponho a vastidão dos mares para além do sol!

Deviam proibir as andorinhas, que me lembram a liberdade...
Deviam proibir as lágrimas, que me rolam pelo rosto...
Deviam proibir que fossemos roubados à eternidade!

(Sentir e Ser - 2011)

IN EXISTIR


Correr,
correr sem impedimento,
fustigada pelo ar,
sufocada pelo vento.

Espraiar os braços;
deste corpo abandonar-me!
E partir...

Desvendar horizontes sem fim,
diluídos na ilusão.
Ir mais além,
encontrar
e saciar,
nas fontes que jorram,
a sede que me consome.
Encontrar O que não morre,
porque nunca existiu,
em fusão no Todo,
ser uno no nada
e de nada e tudo
inexistir.

SILÊNCIOS DE LUZ


Diz-me, diz-me no instante
o que te percorre!
Diz-me de repente
o que sentes!

Diz-me o que te esmaga
o que te sufoca,
o que te emudece
o que te enraivece
diz-me,
sim diz-me!

Diz-me sem medo
sem hesitação e sem murmúrio,
num grito bradado
e nunca velado, sonhado ou emudecido.

Não cales,
não me cales a vontade de saber!
Não me impeças de conhecer a
essência da tua dor,
a clareza do teu contentamento.

A não ser,
que se assome o som,
o timbre de silêncio que escutas,
luminoso e brilhante no fundo de ti...
A não ser que te encontres
naquele que não tem nome,
naquele que tudo extingue.

terça-feira, 29 de março de 2011

VOOS


No encantamento da Luz,
continuo a partir
com as andorinhas,
todos os finais de Verão.

ESPELHO


O que Eu sou,
não está contido neste corpo.
O que Eu penso,
não é parte da minha mente.
O que Eu sinto,
não está no meu coração.
O que Eu escrevo,
não se vê.
O que busco, o que anseio,
não me encontro e não me existe.
O que Eu sou,
não sou eu.