sexta-feira, 27 de setembro de 2013

CAOS











Caos, caos,
em demanda por actos e palavras do futuro. 
Não, não existo neste corpo! Neste corpo não voo nas asas dos pássaros invisíveis. 
E partiram já as aves de mil cores, salpicadas de estrelas, 
tão longe, para tão longe. 
Jamais lhes chegarei na forma atroz e pesada que me limita e encerra.

Caos e escuridão. Distante a luminosidade que outrora transbordou no meu coração.
Caos, porque ontem, outrora num passado-futuro, fui capaz de abraçar o Universo.

E partem os pássaros! 

Partem e com eles levam as asas de mil cores... 
esqueceram-se de mim!

Talvez 

possa partir nas asas do Tempo 
atravessar as altas florestas de sonho, 
Sagrado Tempo que vem
e escuto a canção de ir, deixo-me ir, 
deixo-me ir... 
No infinito esqueço o corpo, abandono o lastro da memória.
No caminho, a cada passo, a liberdade.
Um dia houve, sim, que corri 

e em campos abertos, longínquos, estendi as asas e parti.
Abracei-te na Luz, sem medo de partir.

Olho para trás, os meus passos esqueceram-se das Estrelas.


(Sentir e Ser - 2013)

quinta-feira, 25 de julho de 2013

FLORESTAS DE INFÂNCIA
















Por tua causa,
sabem a Maio os morangos
e o Verão guardou o Sol em sumarentas ameixas quentes,
colhidas em incautos gestos.

Por tua causa,
trepei pelo espírito da Árvore
e aninhei-me em seus braços,
acolhi as flores e provei os frutos
de todas as Estações e Tempos.

Por tua causa
fui Ente diáfano de todas essas Flores,
de todas essas Árvores,
inspirei e guardei perfumes exóticos
de jasmim, canela e rosa.

Por tua causa
segredaram-me ao ouvido
os seus indizíveis nomes,
as coisas que outrora povoaram esses lugares.

Por tua causa,
coube,
inteira,
a minha colossal e frondosa floresta,
no teu pequeno quintal!

Lá pertencemos e vivemos!

(Sentir e Ser - 2013)

quarta-feira, 24 de julho de 2013

PORQUE HOUVE UM TEMPO















Houve um dia em que corremos,
montes e vales adentro.
De mãos dadas corremos
e perseguimos,
flores e borboletas.
Alcançámos as estrelas, lembras-te?

Houve um dia em que corremos
e abraçámos o universo, a Luz do crepúsculo antes da Aurora.
Houve um tempo em que amámos.

Poderei esquecer que te abarquei
na grandeza deste enlace.
Livre, danço e corro.

Olha!
Livre, como sou livre e danço e corro!
Fluo.

Escuta,
persigo um tempo que houve, um tempo que oiço,
ecos de um tempo,
porque houve um tempo que virá.

Morro-me num tempo
que não me detém na infinitude.

(Sentir e Ser - 2013)

TRANSLÚCIDO







Junto às águas murmurantes
respira ténue a brisa do crepúsculo.
Salgueiros e carvalhos sussurram
na anciã linguagem de folhas e água.
Transitam memórias de terra, por entre clamores e silêncios
danço as danças, caminho a passo, cruzo veredas e céus
lugares de tudo o que é, de tudo o que foi,
de tudo o que será.

Repouso na quietude de um grão de Luz.
Translúcido-me...
Nada é,
nada há.

(Sentir e Ser -  2013)

terça-feira, 23 de julho de 2013

MAIO





















Incapaz
de fazer as pazes
com a falta que me fazes,
guardo rascunhos de ti
no papel da
memória.

Sinto na pele e no corpo
a brisa de Maio, de um Maio qualquer,
um tempo ido...
odor a morangos
e a flores,
a terra molhada.

No teu sorriso gargalhado,
a surpresa do último dia... 31.
Trinta e um de Maio...
Saltito feliz e contida... feliz, mas contida.
Feliz...

O gosto acre
das azedas que nascem em toda a parte,
confunde-se com o sal
da falta que me fazes.

O teu Amor
acolho-o no meu Ser
e em lembranças presentes,
abrigadas nas palavras e gestos,
roubadas ao esquecimento.
(Sentir e Ser -  2013)