Pequeno, pálido, um ponto azul...
Derivas só, numa via de poeiras.
Longe do centro, dizem-te em órbita,
no braço exterior de uma imensa espiral.
Não sei se cabes na palma da mão da Ilusão,
tu e a espiral e todas as poeiras,
exóticos e cintilantes faróis,
desta vastidão de negro.
Não sei se cabes na explicação da Razão,
tu e todos os cenários e acções,
evoluções e extinções,
deste vastíssimo vazio.
Palco sagrado, de Vida exaltante,
oceanos de brancos véus te cruzam,
cascatas vaporosas de chuvas evaporadas.
Líquido e azul preenche e ondula,
corre e atravessa ancestrais cicatrizes,
memórias de um anoso nascimento.
Gigante palco, de vida fulgurante. Sagrado!
Vestes verdes majestosos e dourados ardentes.
És corredor de todas as existências,
jardim de milhões de cores e odores
abundas de alma e ânimo de vida que flui.
Nos tempos idos, ficou a tua paisagem,
encerrados os Ciclos e as Eras.
Talvez, passadas Eras de vermelho te tingires,
inflamada e fundida na estrela que te ilumina,
sejas fugaz e refulgente recordação
em remotos universos.
Quiçá, ecos de ti ressurjam.
Num assomo de ousadia, qual navegador
num mar desconhecido, lançámos-te,
Terras de ti, além-espaço.
Náufragos errantes,
sonhámos quem nos salvasse da solidão!
Numa pioneira e complexa garrafa,
encerrámos a nossa chave.
Quão longe, quão distante no tempo?
Contornos esfumados de um mapa perdido,
fantasmas de seres cravados na eternidade,
vozes e lamentos de uma humanidade perdida.
Ecos e canções de uma Terra longínqua,
passada e em cinzas talvez dispersada.
Encerrados os Ciclos e as Eras,
perdida em tempos idos, ficou a tua paisagem
e os Seres, que de Vida, te sacralizaram!
(Sentir e Ser - 2011)