quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

ENTRA


Vou abrir-te os portões do meu jardim.
A ferro bordados, de pontos, vírgulas e espaços.
Vais caminhar de silêncio;
abrem-se à tua passagem
as brumas da solidão.

Pisas terra fértil de dúvida e interrogação.
Flores, muitas, pálidas e garridas,
pétalas espalhadas, borboletas de sorrisos,
pássaros com trovas de alegria.

Há pedras, que arrumadas, orlam canteiros,
vazios.
Lágrimas de seixos, dispersas no caminho,
pelo vento sufocante do Inverno.
Tem cuidado, não te magoes!

Trouxe areia do mar, e um cheiro de Verão,
estão acolá.
Também por aqui passam as andorinhas,
ébrias de sol. Cruzam o céu com cantos de anil.

A Primavera floriu as sementes, e fez crescer ervas;
as daninhas arranco-as, em dias brancos de chuva.

Por aqui não passam as Estações,
passam os Tempos, todos!
Deixaram o cheiro do verde
e dos abraços castanhos à terra.

Se olhares com atenção,
verás ao fundo a Floresta sem muros,
as árvores, gigantes, dançam com o Outono
douradas melodias.

Entoações antigas, notas de um piano irrequietas,
pontilham o ar, não sei de onde vêem!
Nas pausas da quietude, cessa de caminhar.

Escuta.

Talvez encontres a Árvore da Sabedoria.
Não sei onde está.
Disseram-me os pássaros que se perdeu na Floresta.
Se a vires, repousa na sombra da sua Luz.
Recolhe nas tuas mãos o orvalho das suas folhas,
para um dia sem Sol.

Quando partires, leva silêncio.
Leva na memória o cheiro das cores.
Fecha o portão.


(Sentir e Ser - 2011)

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